O Semear e a criação de uma educação mais justa

Eu acredito no potencial da educação e na capacidade de mudança que a gente tem da sociedade pela educação? Acredito que a gente vai crescer enquanto país, enquanto sociedade, se a gente investir na educação.

Cris Aparecida Veloso Guedes

Não é segredo que uma mais justa tem um poder transformador. Ela dá ao indivíduo a capacidade de mudar sua realidade, primeiro ao permitir entendê-la, conhecer outros caminhos e horizontes. Além de desenvolver o pensamento crítico e auxiliar nesse despertar que transforma vidas.

Seu poder se estende também ao campo financeiro, de acordo com pesquisa realizada pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), a graduação no Brasil garante uma remuneração média 144% maior do que a dos que concluíram o ensino médio.

Com todos esses méritos em função do ensino, o Semear busca abranger diferentes níveis da educação para que ela transforme a vida de cada vez mais pessoas.

Uma mais justa durante o Ensino Médio

O último passo antes do ensino superior carrega o fardo de abrir as portas para a universidade. Mas, já nessa fase, os jovens enfrentam dificuldades em relação à permanência, sentindo por muitas vezes a necessidade de abandonar os estudos para trabalhar e ajudar a família.

Dessa maneira, o abandono, a falta de incentivo, de informação e de uma mais justa afastam os alunos do ensino médio de garantir mais um diploma. De acordo com estudos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) em 2019, seis a cada dez jovens que concluem o ensino médio não dão continuidade a seus estudos. Sendo assim, o ensino médio é um divisor de águas, ao definir se os alunos terão ou não contato com o universo da graduação e o incentivo para permanecer. 

Semear nas Escolas: apoio para os vestibulandos

Analisando a dificuldade que muitos alunos de escolas públicas encontram em ter contato com informações sobre vestibulares, cursos da graduação e meios de permanência, surgiu o projeto Semear nas Escolas. Sobre isso, João Duarte, Líder do Semear nas Escolas, nos conta mais:

[...]é comum que a expressão do jovem aluno acabe sendo castrada por ideais alheios: pais, sociedade, governo, professores, amigos, etc. Todos têm uma opinião perigosamente definitiva sobre quem é e o que será da vida desse jovem. Voluntariamente, esquece-se desse educar e procura-se a formatação do indivíduo, o ‘fabricar’ mão-de-obra, e no fim das contas, fortalecer a desigualdade.

João Duarte

Assim, para mudar essa visão e ampliar os horizontes dos alunos, o projeto orienta e fomenta o acesso ao Ensino Superior para jovens de escola pública através de oficinas em escolas de São José dos Campos. A equipe do Semear nas Escolas conta com 70 jovens atualmente e juntos têm impactado a vida de diversos alunos.

Ao todo, no primeiro semestre de 2023, impactamos 438 jovens da rede pública de São José dos Campos. Desses jovens, aproximadamente 80% saem de nossas oficinas confiantes para ingressar no Ensino Superior e mais abertos para estruturarem uma rotina de estudos. São vários relatos que recebemos e momentos que acompanhamos de perto ao longo das oficinas: jovens que saem com um brilho renovado nos olhos, voltam até a sala de aula para agradecer o momento de autodescoberta e saem felizes a contar para seus professores as novas ideias de futuro.

João Duarte

As dificuldade no Ensino Superior

Apesar das diversas vantagens que acompanham iniciar uma graduação, como aumento das oportunidades profissionais, média maior de salário, o que acarreta em melhores condições de vida que influenciam na satisfação pessoal. É alarmante que no Mapa do Ensino Superior do Brasil, elaborado pelo Instituto Semesp, mais da metade dos alunos que entram em faculdades no país desistem antes de completar o curso.

Além da falta de uma mais justa, frequentemente, a evasão se dá por dificuldades financeiras. A mentora Cristina Guedes, docente no curso de Fisioterapia do Centro Universitário da Fundação Hermínio Ometto de Araras – SP, comenta:

Um desafio é certamente o baixo nível sócio econômico, no nosso caso, 70 a 80% são jovens da classe C e D. Onde, além de muitos não receberem incentivo e apoio familiar, precisam trabalhar para pagar a faculdade ou custear inclusive sua subsistência.

Cristina Guedes

Thierry Camargo Teles, Líder da Trilha de Autoliderança, ainda complementa:

Quando a gente olha para o ensino superior em especifico é necessário fazer vários recortes dos tipos de alunos que estão ali: alunos que precisam trabalhar enquanto estudam e enfrentam uma grade curricular e demandas que não são adaptadas para a sua realidade, bolsistas em Universidades Particulares que sofrem diversos tipos de preconceitos apenas por serem bolsistas, alunos negros, pardos e indígenas e a comunidade LGBTQIA+ que enfrentam diversas situações de descriminação no meio acadêmico e fora dele entre tantos outros recortes e singularidades existentes na vida das pessoas.

Thyerri Camargo

Trilha da Autoliderança: um meio de apoio

Por sua grande capacidade de alterar a realidade dos jovens e suas famílias, a graduação tem sido um dos principais focos do Semear. Assim, com a “Trilha da Autoliderança” trabalhamos para romper o ciclo da pobreza dos jovens de baixa renda e garantir acesso a uma mais justa e a permanência desses alunos. Porém esse auxílio vai muito além da bolsa financeira:

Cada um dos jovens são acompanhados individualmente por uma das tutoras. Cada Missão (que seria a parte de colocar na prática o que viu nos treinamentos, em que tratamos sobre desafios recorrentes desse público como Gestão de Rotina, Alimentação, Prática de Atividade Física, Descanso, Pertencimento) são desenvolvidas para que o jovem consiga se colocar ali. Expondo a sua individualidade e conseguindo aplicar aquilo na sua vida real. Desse modo, cada treinamento, cada atividade, cada material complementar são realizados com o objetivo de atender todos os diferentes tipos de jovens que participam do projeto.

Thyerri Camargo

Portanto, o Semear luta não só pela permanência, mas pelo pertencimento. Para que os bolsistas consigam ocupar o ambiente universitário, entendendo seu direito de estar nesse local e seu propósito. Essa questão é tratada não só em treinamentos, mas também no próprio contato e reconhecimento entre os bolsistas, que encontram colegas que entendem e passam por vivências próximas às suas.

Além disso, a mentoria também merece destaque, nelas os jovens encontram suporte e acolhimento em seus mentores. O mentor Fábio Yoshikazu Takahashi, Professor Convidado de Pós Graduação na Escola Conquer, comenta:

O trabalho do semear é essencial, na minha opinião. O Semear ajuda em diversas frentes, todas complementares entre si? De forma direta com as bolsas para os jovens sementes, com experiência prática para o time administrativo, com desenvolvimento de potencial com o projeto Delta e com o suporte que alguém mais experiente pode trazer com as mentorias! Inclusive, as mentorias para mim são “mind blowing” (de explodir a mente), ver o potencial dos jovens do Semear é algo que me faz acreditar em um futuro melhor.

Fábrio Yoshikazu

Além disso, a empregabilidade também é abordada. De modo que os jovens obtenham habilidades e conhecimento para que consigam ingressar no mercado de trabalho. Essa função é realizada pela construção de uma rede de conexões com empresas, outros jovens, profissionais experientes do mercado de trabalho, e exercitando suas habilidades através dos treinamentos e mentoria.

Mas também, auxiliando os Jovens-Semente, bolsistas do Semear, a entender seu propósito e trabalhar sua auto-estima. Cristina Guedes e Fábio Takahashi ainda analisam a importância de trabalhar essas habilidades:

Vejo que há uma grande lacuna a ser trabalhada dentro dos aspectos das atitudes (habilidades comportamentais), pró-atividade, propósito, auto-estima, dos jovens e muitas vezes nos sentimos desconectados dos alunos.

Cristina Guedes

Hoje como professor de pós vejo que mesmo entre pessoas com formação superior completa, existe um gap muito grande de habilidades entre os alunos e não me refiro a habilidades técnicas, essas vão sim variar de acordo com a formação, mas digo sobre habilidades comportamentais. Vejo muitos alunos com conhecimentos técnicos avançados mas que “chegam ao mercado” sem ter soft skills básicas, o que com certeza pode impactar suas carreiras e oportunidades.

Fábrio Yoshikazu

Formando líderes

Atualmente, a Trilha da Autoliderança possui 200 jovens bolsistas, que contam com bolsa-auxílio, mentoria, rede de conexões e participam dos diversos treinamentos do projeto. Juntamente com o Semear nas Escolas, são 638 jovens impactados, sendo encorajados, incentivados e apoiados a não desistir de buscar um futuro diferente, pois acreditamos que, ao dar uma oportunidade para cada um desses jovens talentos, estamos trabalhando para colher um país melhor através dos líderes que criamos hoje.

Educação não transforma o mundo. Educação muda as pessoas. Pessoas transformam o mundo.

Paulo Freire

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